A última montaria de Mason Lowe nos ensina muita coisa …
Quem já foi competidor sabe que, quando se abre a porteira, tudo pode acontecer, tudo mesmo, inclusive perder a vida.
Quando o competidor americano Mason Lowe, deu sinal de positivo em Denver para a abrir a porteira, nem ele, nem nós sabíamos que seria a última montaria
Morreu Mason Lowe, automaticamente, nós que acompanhamos rodeio, PBR, sabíamos quem era.
Será que sabíamos mesmo? Não, não sabíamos, quem era Mason Lowe.
Por mais que ele tenha estado na elite da PBR, ganhou eventos, feito PBR Finals, vencido touros importantes como Bruiser e Smooth Operator, ele não conseguiu grandes conquistas, então, ele era para nós brasileiros um nome, um competidor ali, na lista, ou mesmo um competidor montando bem em nossa frente nas telas de celulares ou computadores, na transmissões, chegamos a ver dezenas de montarias dele, sem realmente saber quem era Mason Lowe.
O competidor americano, Mason Lowe, morreu aos 25 anos de idade, na terça-feira, 15 de janeiro de 2019, na cidade de Denver em um evento de acesso da PBR, porém, acredito eu que, este seja o evento de acesso que mais recebe competidores da elite da PBR, entre eles haviam vários brasileiros que testemunharam o momento triste, o fim da vida de alguém que estava ali, todas as semanas.
MUITO ALÉM DE UM VÍDEO
Antes de mais nada, eu vou me incluir nessa crítica.
Aqui no Brasil, a morte de alguém, se resume em um vídeo com o acidente. Ponto!
A curiosidade da desgraça e o desespero de sair repassando o vídeo da morte, como se fosse um troféu, é algo triste, me entristece.
Na verdade, quando fazemos isso, somos verdadeiros abutres, despreparados, desonestos e covardes com a família do falecido, não respeitamos nem o falecido que, em muitas vezes era nosso ídolo, ou amigo.
O caso recente aqui no Brasil foi a morte de Giliard Antonio. Dezenas de pessoas, espalharam em dezenas de grupos de whatsapp.
Eu não espalhei em grupos de whatsapp, mas enviei para pessoas no particular que me pediram, o que faz de mim um abutre igual aos outros.
Essas críticas são duras, me incluo na bronca
Gosto de usar uma frase que: “A morte já é dolorosa demais por si só, ela não precisa de explicação, ou de um vídeo”
No caso de Giliard, lembro certinho que coloquei uma montaria dele, vencendo um touro em Barretos, um momento importante de sua carreira, lembro também que ele comemorou muito aquele momento, foi algo que ficou marcado, aquela vibração.
Coloquei uma entrevista que fiz com ele, uma oportunidade de as pessoas conhecerem ele além de um vídeo desastroso.
A notícia de morte, dá muito clique, acessos, não importa quem seja, falou que é morte, pronto. Os cliques estão garantidos.
Quando o salva-vidas “Neguinho” faleceu, e eu noticiei, apenas texto, sem vídeos, tive no meu site 30% de cliques do mês inteiro em um dia.
Fiquei muito mal com aquilo, embora era uma notícia e que, se eu não der, outros vão dar, passei a não colocar mais as notícias de morte no meu site. Foi tipo uma promessa, me sentia mau com aquilo. Não existe algo mais desagradável de ser fazer do que uma notícia dessa dimensão.
Quebrei o protocolo, quando Giliard morreu, mas fiz de uma outra maneira, do meu jeito, lembrando coisas boas e, na verdade nem fiz uma notícia, apenas postei uma entrevista já feita com ele há muito tempo que foi muito clicada, e muitas pessoas puderam ter a oportunidade de conhecer Giliard, muito mais do que o vídeo trágico com sua morte.
Não pensei em dar sequência, porque não gosto de noticiar morte, mas essa semana, tive a certeza que estava certo ao postar as coisas boas de Giliard, e errado ao não postar nada dos outros acontecidos.
Infelizmente, a morte não é a melhor forma de se conhecer ninguém, mas a popularidade da morte é uma oportunidade única de mostrar as pessoas, quem era essa pessoa que faleceu, as qualidades dela, quando há algo para se mostrar.
Giliard tinha algo a ser mostrado, e no caso de Mason Lowe, que eu e você sabia quem era, mas não conhecia, também tinha.
FAZENDO A NOTÍCIA DO JEITO CERTO
Nessa hora tenho que elogiar minha profissão, colunista, ou escritor, como chamam lá nos EUA.
Justin Felisko, colunista da PBR nos EUA e uma pessoa que tenho a honra de chamar de amigo, me chamou para conversar em um horário incomum para se conversar. Era muito cedo nos EUA, era quase madrugada, mas ele estava acordado.
Ele me disse: “Fiquei TRINTA E CINCO HORAS ACORDADO, mas ele (Mason) merece esse texto de 5800 palavras que escrevi em sua homenagem” Explicou “Foi o texto mais longo que escrevi e quando terminei, eu chorei”
Porque ele chorou? Porque ele conhecia Mason Lowe e, através de uma texto, queria que outras pessoas soubessem quem era ele.
No texto NÃO HAVIA VÍDEO DE SUA MORTE, só vídeos de seus melhores passeios, montarias.
Acredito que foi o maior texto que li até hoje, é muito grande. Não sei dizer o meu nível de inglês, mas tenho a certeza que está muito longe de ser fluente, preciso do tradutor, demorei mais de quarenta minutos para ler tudo.
Quando acabei, eu sabia quem era Mason Lowe e, é preciso lamentar mais uma vez sua partida. Era um cara incrível, mesmo sem conhece-lo.
Justin contou desde o primeiro rodeio que ele, Mason, entrou nas divisões de acesso, seu primeiro evento na divisão principal, onde ficou com Tanner Byrne que também estreava no mesmo rodeio, acuados em um canto com vergonha.
Justin escreveu o que sabia de Mason Lowe, deixou os amigos contarem o que sabiam, expos toda repercussão da sua morte.
Em resumo Mason Lowe era um cara sorridente, alegre, que sempre fazia as pessoas ao seu redor sorrir.
Não importa o que acontecia com ele ou com os amigos na arena durante uma montaria, lá estava Mason no fundo dos bretes com o sorriso pronto, ou com alguma frase pronta para fazer sorrir, quem estivesse triste.
Era também um cara que não dava bola para a dor, não importava a gravidade, saia da arena com estilo, mesmo tendo a corpo explodindo em dor, ele guardava para ele. Um competidor valente.
Era também um cara que queria sempre o melhor, se dedicava para as coisas darem certo, não teve um bom 2018, mas vinha fazendo uma boa temporada no Velocity Tour. Já estava no TOP20 do ranking mundial quando faleceu. Queria sempre acertar, melhorar.
“Ele montou dois touros antes de mim, eu vi o pisão e consegui ver que era grave, no outro dia, eu pedi para tirar meu nome da lista, não tinha clima, a PBR nos deixou a vontade para escolher o que fazer” Disse João Ricardo Vieira que na mesma semana venceu o rodeio de Glendale. “É algo muito triste, ele estava sempre ali do nosso lado, agora não estará mais”
Praticamos um esporte que veio dos EUA, mas esquecemos de trazer muita coisa de lá.
Lógico que em uma atitude abutre, eu também procurei ver o vídeo e não achei.
Assim como no Brasil, vários sites de notícias, não ligados ao rodeio postaram uma matéria sobre a morte, entrei em dezenas deles durante a semana.
Foram postadas várias reportagens em vídeo e o que tinha nelas? As montarias de sucesso, de Mason Lowe.
A PBR e o rodeio de Denver criaram um link para que fosse arrecadado fundos / dinheiro para a família. (Link para doações)
A descrição da morte no site da PBR, se limitava a “Ferimentos ocorridos durante a montaria”
O RidePass deixa arquivado todos os eventos que transmite, Denver não ficou arquivado.
A PBR lançou um adesivo de Mason Lowe no valor de $10 dólares, com renda revertida para a família.
O funeral de Mason Lowe será transmitido nesta terça-feira 15h00 (Brasília) pelo site da PBR (Link transmissão)
O que a PBR, a imprensa americana, Justin Felisko nos ensinou sobre a morte de Mason Lowe é que, há coisas muito mais interessantes como verdadeira homenagem do que um vídeo de montaria.
PS: Se você chegou até aqui na leitura, não há vídeo da última montaria de Mason Lowe, há sim uma maneira de conhecê-lo melhor e de aprendermos que há possibilidade de fazer boas coisas quando alguém perde a vida.
Descanse em Paz Mason Lowe