Conheça a história do salva-vidas de rodeio que largou a carreira consolidada no Brasil para tentar um sonho na América
PS: Esta matéria faz parte da Revista de Os Independentes, que estará disponível na Festa do Peão de Barretos esta semana, porém, já que nem todos terão o acesso a revista resolvi publica-lo para que os fãs de rodeio e admiradores do rodeio, Salva-vidas e em especial do Gauchinho possam acompanhar.
Lucas Belli Teodoro, ou melhor “Gauchinho” estará trabalhando na 60ª Festa do Peão de Barretos, hoje ele mora nos EUA, e foi de lá que ele concedeu esta entrevista.
Quando um homem de aproximadamente oitenta quilos, enfrenta em um rodeio um touro dez vezes mais pesado, já nos causa espanto.
O difícil é imaginar que existe outro homem, que se propõe a defender este cowboy, peão, vaqueiro, nos tempos modernos, alguns o chamam até atleta, enfim, existe alguém a ficar entre ele e animal.
Os peões que enfrentam touros de rodeio nas arenas do interior do Brasil, buscam fama, dinheiro e sucesso.
Muitos ganhavam um salário mínimo montado em um cavalo o dia todo em uma fazenda, na maioria das vezes debaixo de sol quente, em algum lugar do Brasil. Outros ainda enxergaram no rodeio um meio de sustento.
No milionário mundo do rodeio, às vezes eles disputam em um único final de semana dez vezes o que ganhavam na fazenda, em outras situações vinte vezes mais, se for campeão nacional pode ganhar um carro, cem mil reais, seiscentos mil e até um milhão.
Se decidir ir aos Estados Unidos, disputar o campeonato mundial da PBR – Professional Bull Riders, o prêmio pode ser ainda maior UM MILHÃO DE DÓLARES. Acha isso impossível? Em 21 anos do torneio mundial, o Brasil já conquistou nove títulos.
O homem mais rico do mundo fazendo isso, enfrentando touros, é brasileiro, Silvano Alves, de Pilar do Sul, interior de São Paulo. Seus ganhos ultrapassam CINCO MILHÕES DE DÓLARES, fora patrocínios e dinheiro ganho montando aqui no Brasil.
O que não se pode negar é que, apesar de tentador, o esporte é perigoso, muito, e por muitas vezes, mesmo sendo campeão, os animais, derrotam e colocam estes “Aventureiros” em perigo e, para ser mais preciso, de cara com a morte.
É sabido que, eles (peões) tem preparo físico, devoção e muita fé, mas quando eles caem, alguém intercede de forma humana para socorrê-los.
Eles são os salva-vidas de rodeio. O rodeio os chama de “Anjos da Arena”, já a maioria do público de loucos.
Colocar sua vida em risco, para salvar a vida do próximo, é um pouco custoso a entender, ainda mais quando eles chegam a repetir o mesmo ato até cinquenta vezes em uma só noite.
Não importa o status do competidor: campeão, amador, novo ou experientes, lá estão os Salva-vidas, pronto para interceder entre o peão e o touro.
Em uma visão mais detalhada, lá está ele para entrar à frente do animal e chamar toda sua atenção e fúria para ele, deixando o cowboy ileso, esse é o plano, podendo resultar em uma cabeçada, pisão ou simplesmente ser atropelado pelo touro e sair desmaiado e ainda o pior, sair morto de dentro da arena.
A ação independe do êxito da montaria (peão ficar os oito segundos necessários para receber nota) ele tem sempre que chamar o foco do touro para ele, seja com um ou dez segundo, ele precisa salvar o peão.
E tudo isso ainda pode ser mais complexo, em caso de um enrosco. O peão se firma, segura em cima de um touro, com apenas uma das mãos e, para que não escape, ele usa um cola, para dar mais aderência na luva de couro que usa.
E dependendo da maneira e lado que caem, a mão fica presa, e ai quem entra para tentar tirar a mão são os salva-vidas, momentos sempre de apreensão e risco, o contato com o touro é inevitável, e contato como o touro não é nada macio, ou sendo mais exato, sem dor.
Entre tantos ‘loucos’ no Brasil, são dezenas, deles achei a história de ‘Gauchinho’, 27 anos de idade e onze como profissional Salva-Vidas.
Quando foi a primeira vez que entrou em uma arena como salva-vidas?
Foi aos 13 anos de idade, após alguns anos treinando. Participei do primeiro rodeio profissional com 16 anos de idade.
Porque ser salva-vidas? Quem o influenciou?
A vontade era de ser peão, mais não tinha coragem para montar, e queria estar no meio do rodeio. Sendo assim, fiz amizade com um salva vidas (Mateus Massera) e através dele entrei na arena pela primeira vez.
Momento mais perigoso de sua carreira qual foi?
Foi na etapa da PBR em São José do Rio Pardo (SP) em 2014, onde sofri um grave acidente. Levei uma chifrada de um touro e na mesma hora fui para o hospital e passei por uma cirurgia.
Gauchinho leva susto ao cair na frente de touro em Barretos
O que se pensa nessas horas?
Pensamento em Deus para abençoar e proteger para que nada pior aconteça. Por algum momento pensei em parar de trabalhar, mais o amor pelo Rodeio é maior. E nesse momento da minha vida não me vejo fora do rodeio.
Alguma vez você ficou chateado por não ter conseguido salvar um peão?
No começa de minha carreira, um competidor com o nome de Nelson Vieira, montou no touro “Magnífico” da Cia de Rodeio André de Mogi. Ao cair o peão desmaiou e o touro não saia de cima dele. A gente entrava para tirar o animal e ele não saia. Eu era um salva-vidas novo, sem experiência, nunca esqueço deste lance.
Qual foi momento mais marcante de sua carreira?
São vários momentos marcantes em minha carreira, vários sonhos que se tornaram realidade. O mais marcante pra mim foi o primeiro rodeio que fui contratado para trabalhar nos EUA.
Quando e onde isso aconteceu?
Na cidade de Montgomery AL. Ano de 2013, etapa da Touring Pro Division (divisão de acesso da PBR)
Quando resolveu ir embora do Brasil em definitivo?
Em janeiro de 2015
Você tinha uma carreira consolidada aqui no Brasil. Porque trocar o certo pelo duvidoso, já que nos EUA Sabemos que não tem rodeio toda hora para os novatos. Como é sua vida de trabalho (rodeios) ai nos EUA?
Sim, ai no Brasil consegui atingir todos os meus objetivos, trabalhei em todos os grandes rodeios que queria trabalhar e também no campeonato da PBR Brasil, que sempre foi um sonho. Queria mais e agora é hora de correr atrás dos meus objetivos aqui nos EUA, mesmo sabendo que não vai ser fácil. No Brasil também não foi fácil, porém persisti e venci, basta acreditar. A minha vida de trabalho não está como no Brasil toda semana, as coisas estão se encaminhando estou tendo as minhas oportunidades e estou aproveitando elas.
É preciso trabalhar em outra coisa para se manter ai? Onde (cidade) está vivendo atualmente?
Sim é preciso ter um outro trabalho para poder se manter, e é bom para ocupar a cabeça também. Atualmente estou vivendo em Sunset, no Texas, em um rancho. Perto de Decatur, aonde vivem os que montam na PBR, é importante para mim poder viver perto deles .
Qual a maior dificuldade quando se está longe de sua terra?
A maior dificuldade é estar longe da família, longe das nossa culturas e das nossas raízes. É difícil as vezes viver em um pais que não conhecemos totalmente as culturas. A língua não é uma grande dificuldade já consigo me comunicar bem por aqui.
Qual o objetivo de Gauchinho nos EUA? Onde quer chegar?
Quero chegar em uma Final mundial da PBR em Las Vegas.
Como é trabalhar em Barretos?
Eu acredito que é a maior referência do esporte rodeio no Brasil, estou muito feliz por estar lá trabalhando, fiz questão de agendar minha viagem de volta ao Brasil por estes dias. Vai ser um prazer estar lá de novo.
Foto: André Silva