Entrevista com o locutor de rodeios e apresentador de shows Cuiabanno Lima
Conheça um pouco mais sobre a vida do narrador que ganhou as arenas e os palcos mundo afora.
Desmatamento, crise financeira, cultura brasileira, política, assuntos estes tratados em jornais como a folha de São Paulo, New York Times, entre outros. Assuntos que são tratados por um locutor de rodeio, nestes mesmos meios de comunicação acima citados.
O locutor é Andraus Araujo de Lima, mais conhecido como Cuiabano Lima. Casado, pai de um filho, Cuibanno reside em Barretos, terra da Festa do Peão de Boiadeiro.
Como diversos outros grandes nome da locução, ele percorre o Brasil, não só narrando rodeios, mas também, se tornou um dos principais apresentadores de shows.
E não é aquele locutor que está ali por um acaso e acaba apresentando o show, ele é contratado a parte para fazer a essa função, em muitos casos, vai para eventos só para essa apresentação, que ele denomina ‘pré show’, em um estilo criado por ele mesmo.
É conhecido no meio artístico, seu vídeo de apresentação para adentrar a arena foi gravado pelo ator Marcos Palmeira. Já foi entrevistado pelo lendário apresentador Jô Soares e sempre está com reportagens em meios de comunicação fora do nosso meio country como citado acima. Politicamente de direta, não concorda que os assuntos em uma roda de conversa seja apenas rodeios, e não foge a nenhum assunto polêmico.
Formado em jornalismo e direito, suas apresentações, na abertura de shows, levaram Cuibanno lima para apresentar os principais festivais de músicas, não só Brasil como no mundo, com passagens por Portugal, EUA, Bélgica, Inglaterra. Confira entrevista:
Como o Andraus Araújo pegou um microfone, entrou na arena e ser tornou o Cuibanno Lima?
Acredito que meu jeito comunicativo, sempre gostei de conversar com as pessoas, gostava de falar versos. Havia um programa de rádio em Barretos, onde os ouvintes ligavam e falavam versos e, eu era um destes ouvintes.
Insisti tanto para ir lá falar ao vivo, até que o apresentador permitiu que eu fosse, foi meu primeiro contato com o microfone.
A Festa do Peão de Barretos, também foi minha influência, minha mãe sempre me levava para os desfiles típicos, frequentava a Festa do Peão, e aos quinze anos, decidi o que queria para minha vida, ser locutor de rodeios, tanto que aos dezesseis anos, eu já estava em uma arena.
No começo não tinha essa facilidade de improvisar, o jeito foi ouvir fitas de narrações, escrever tudo em um caderno, decorar aquelas falas e, narrar aquilo que eu decorei, muitas vezes a montaria não era nem condizente aquilo que eu estava falando.
Quando eu fui ao programa de rádio falar versos, eu gostei, porém ao mesmo tempo, não era aquilo, queria a adrenalina da arena, ir a rádio só confirmava aquilo que eu queria ser: Locutor de rodeio.
Porque tinha que ser na arena?
É lá que você agrega valores, sente o calor humano, leva entretenimento, passa mensagens de positividade, consegue dar o retorno ao patrocinador, aos organizadores que te contrataram, é lá que você consegue sentir e levar emoção e era na arena, que eu queria estar.
Como você disse, sua origem vem da locução tradicional, com versos e essa interação com a arquibancada. Como você reagiu a essa mudança do rodeio mais técnico?
O rodeio hoje, está mais no estilo PBR – Professional Bull Riders, onde a atenção é totalmente voltada para o esporte, técnico.
Acredito que, consegui me adaptar e manter um equilíbrio, observando este lado mais esportivo, me aprofundando em conhecer os touros, os competidores, porém, não deixei de ser um agregador de valores, passando as mensagens que tenho que passar, levando a alegria, o entretenimento. Essa mistura da técnica com a dinâmica tem dado certo no meu trabalho.
Como surgiu a questão de ser apresentador de shows?
Na década de noventa, eu não tinha o espaço como locutor dentro da Festa do Peão de Barretos. Então o Cassio Leite (In Memoriam), que era um dos diretores de Os Independentes, me chamou para entreter o público naquele espaço entre um show e outro, entre o rodeio e show. Passei também a fazer os lançamentos da Festa do Peão de Barretos.
Antes, os shows eram apresentados por locutores de rádio. O que eu fiz? Levei o DJ para o palco, e passei a fazer uma apresentação com começo meio e fim.
Entreter as pessoas, animá-las e deixa-las já aquecidas para o show, é um ‘pré-show’, um show ante do show. Mas, acima de tudo é um locutor de rodeio, representando a classe em cima do palco.
A partir deste trabalho veio a ideia de gravar algumas músicas minhas, como ‘Biscate’, ‘Quem Pagou Fui Eu’, entre outras.
Cuiabano, sinto nas rodas de conversas, que esta sua função de apresentador de shows incomoda algumas pessoas, já presenciei algumas críticas. Como você encara isso?
Se incomoda algumas pessoas, não deveria acontecer, repito, é um locutor DE RODEIO, que está ali, é alguém do rodeio representando a classe em cima de um palco.
Quero aproveitar esta oportunidade para dizer que, minha prioridade é o rodeio, nunca deixei de fazer um rodeio para fazer um festival ou um show.
Mas, essas críticas não me desmerecem, afinal Deus me deu esse dom de saber apresentar um show. Só para você ter noção, muitas vezes essa minha abertura com os empresários de shows, já resolveu questões de horários, que é um problema infelizmente comum nas arenas, fiz com que eles esperassem com rodeio acabasse.
Sou como se fosse um ele de ligação entre o show e o rodeio e, os empresário e artistas respeitam muito nosso meio, e de certa forma pude colaborar com isso. Então as pessoas deveriam enxergar isso (eu ser um apresentador de shows) de forma positiva, ou as vezes queriam estar no lugar que estou e, não tem essa versatilidade de fazer duas coisas, ser locutor de rodeio e ser apresentador de shows.
Como surgiu a oportunidade de ser o garoto propaganda da FORD
A Ford ia fazer um filme voltado para os produtores rurais, e eu fui um dos trinta convidados para fazer um teste, entre estes convidados, estava locutores e atores, e eu passei.
A partir de então eles começaram a acompanhar os meus trabalhos em redes sociais, ver a dimensão dele, e ver também que atingia diversos meios de comunicação, foi a partir daí que fizemos uma parceria onde eles me cederam, uma Ford 2017 para eu divulgar a marca nos eventos onde passo.
E isso é bom para o rodeio, porque sou um profissional do rodeio, dentro de uma grande marca e o departamento de marketing da Ford, está de olho em mim, ou seja, está de olho no rodeio, isso foi bom para mim, sim foi, mas foi bom para o esporte rodeio, que precisa de grandes marcas para apoiar nosso esporte.
Ford Ranger | Drive Thru Narrador de Rodeio HD from Matheus Rocha on Vimeo.
Você esteve em diversos programas, que atingem pessoas fora do nosso seguimento, como Jô Soares, Regina Casé, CQC, entre outros. Você acha importante nós do rodeio estarmos buscando novos seguidores fora do nosso contexto habitual?
Se não fizermos isso o rodeio está morto, temos que buscar novas mídias, em 2015, a revista Piauí, a revista com maior conceito literário do brasil, (veja matéria) fez uma entrevista comigo de oito páginas, uma jornalista carioca, que nunca havia visto uma vaca em sua frente, viajou comigo trinta dias, e viu todas as realidades, ele viu rodeio de prefeitura, de sindicato, de campeonato e fechou a pauta nos sessenta anos da Festa do Peão de Barretos.
O rodeio não pode ser feito só para quem gosta de rodeio temos que buscar novos horizontes. E isso me projetou para o New York Times, onde fizeram um perfil meu e lá saiu sobre meu trabalho, sobre minhas opiniões tanto na versão escrita como na versão virtual.
Como você enxerga o rodeio de uma maneira geral
O rodeio está ligado ao agronegócio, é o agronegócio que sustenta este país, mas, a grande mídia, não sabe nada do que estamos fazendo, converso com jornalistas em São Paulo e Rio de Janeiro, eles não sabem o que se passa com nossa vida, porque estamos ligados ao interior, e esse é nosso erro, achar que todo mundo sabe o que fazemos ou que somos.
Temos que melhorar nosso trabalho, nossa mente. Hoje estamos sendo massacrados pelos empresários de shows, de certa forma são quem levam o dinheiro do rodeio, são os shows, criou-se essa de que o show paga a conta, então os organizadores investem um, dois, milhões de reais em shows e querem fazer um rodeio com oitenta mil reais, pagando pouco para todo mundo, locutor, peão, juiz, tropeiro que investe um monte para ter animais qualificados.
Hoje não conseguimos impor nossos preços, os shows têm os preços deles, e nós temos que pegar o que a comissão tem, não o nosso valor.
Sei que os artistas não têm nada contra o rodeio, mas eles levam a maioria do público, levamos de 20 a 30 %, em raros casos como Rio Verde, Colorado, Barretos, onde uma grande quantia vai para ver o rodeio.
O rodeio precisa se reinventar, ser organizar, agregar mais, se unir, estamos muito esparrados.
Para termos a mídia que queremos e precisamos, precisamos estar mais organizados, precisamos explicar melhor o que somos.
E a primeira coisa a se organizar é extinguir essa cultura de o que é bom é o mais barato. Hoje o artista tem o melhor hotel o camarim do artista o camarim da banda e nós? O que temos? NADA. Precisamos deixar de ser circo, a era do circo já foi a muito tempo.
Apesar de tudo temos um caminho bonito a percorrer, nos unir e principalmente tratar bem nosso público, temos que olhar, brincar, interagir com eles sim.
No geral a economia, está melhorando, os eventos estão se reorganizando. Uma coisa legal é esse mercado de touros, essas negociações, são muito importantes para o mercado.
Hoje os animais são muito comentados, de certo moda, as vezes a mídia dos animais está melhor do que dos próprios competidores.
Vejo também a importância dos campeonatos em revelar talentos, assim como acho muito interessante o formato da ACR – Associação dos Campeões de Rodeio.
Ou seja, há espaço para todos, temos que acreditar que podemos ser melhores para juntos melhorar o rodeio.
Cuiabano Lima e um dos melhor locutor de rodeios do mundo e com essa voz também é tudo, grande abraço boa sorte fica c Deus.