Kaique Pacheco venceu o mundial o sistema de pontos da PBR e a dor do joelho.
O mundial de Las Vegas da PBR – Professional Bulls Riders terminou no último domingo.
Como todos sabem Kaique Pacheco foi o campeão mundial. Mas, não foi apenas um título mundial, foi uma vitória sobre um complexo e confuso sistema de pontos, foi uma vitória de superação e dor. Mesmo um pouco tarde, resolvi preparar uma grande história sobre essa conquista recheada de diversas informações. Boa Leitura
ASSISTINDO A CONQUISTA DO AMIGO
Era uma tarde de domingo em Las Vegas a porteira abriu e o touro vermelho deu dois pulos e entrou rodando para a esquerda, duas rodadas depois e saiu da roda puxando o brasileiro para frente, seu capacete amarelo quase se encontra com o chifre do touro, mas já era tarde, o brasileiro venceu o touro e quando se livrou dele, tirou e chutou o capacete, nem deu muito tempo, o restante de competidores brasileiros chegaram e o abraçaram e depois deram um belo banho de areia na arena, conhecido como “Batismo do Peão”
Na arquibancada muitas bandeiras brasileiras, o Brasil que havia ganho o mundial em 1994, 2001, 2002 e 2006, 2008, 2010, 2011, 2012, voltava a ganhar o título mundial de 2014, Silvano Alves era o campeão do mundo, o terceiro de sua carreira, o nono título para o Brasil, que dominava o esporte de montarias em touros no campeonato mundial da PBR – Professional Bulls Riders
Na arquibancada ou em algum lugar no fundo dos bretes estava Kaique Pacheco, que na época foi para Las Vegas para montar em uma etapa de acesso da PBR que estava acontecendo onde é realizada hoje a final do Velocity Tour, na arena do South Point Hotel.
Eu estava em Las Vegas naquele ano e vi até alguém tentando arrumar ingressos para o Kaique assistir a final mundial. Era apenas mais um garoto em busca do sonho, vendo os grandes nomes do rodeio mundial na arena com a intenção de ser um deles.
SURGE UM INIMIGO
Dias depois deste episódio que eu presenciei, veio um duro golpe contra o talento brasileiro e contra o talento de quem monta em touros.
O novo sistema de pontos da PBR, batizado nos bastidores como “Regra Silvano Alves”, ou “Regra contra Silvano Alves”, entenda como quiser
Para você entender rapidamente, todos na america admiravam e admiram Silvano Alves, afinal são três títulos mundais, mas o fato de ele nunca optar por Re-Rider, não agradava a todos.
Testemunhei uma grande vaia em 2014, quando ele se recusou a montar em um touro reserva na PBR Finals.
Silvano, usava o regulamento e, muito estrategista, ele percebeu que com a quantidade de animais difíceis, uma nota baixa não atrapalharia o resultado final, ele sabia que, lá no final do rodeio, ele estaria entre os primeiros, mesmo com uma nota baixa, ele conseguiu ler que, no final poucos competidores terminavam invictos.
Assim, fazendo o básico e fundamental da regra da montaria em touros, “Vencendo seus touros” como ele sempre frisava em suas entrevistas, Silvano venceu três mundiais, vencendo uma quantia de touros superior aos outros, só fez o que pedia a regra, mas, isso incomodou, o sistema e, tudo foi mudado.
A nova regra da PBR implantada em 2015 era clara: Vai ganhar pontos/bônus no ranking só os melhores do round, o competidor que não pegar Re-Rider, ou não terminar entre os primeiros, vai ficar sem bônus, as notas não somavam mais como bônus no ranking. Os bônus da PBR Finals caíram para menos da metade.
Tentei não escrever isso, mas preciso ser claro, afinal todo mundo está vendo, a regra tem a “Margem de erro do Ibope”. Dois pontos percentuais para lá, dois pontos percentuais para cá e, intencionalmente ou não, você acaba definindo quem fica com os bônus do round ou não.
A final mundial de 2015 foi sem sal e sem açúcar, J. B. Mauney chegou com uma diferença significável e, com a mixaria de bônus que eram oferecidas na final mundial, era meio que impôssível alguém ultrapassá-lo, tanto que no sábado ele já ganhou garantiu o título mundial.
As mudanças nos bônus foram tão ruins, que no ano seguinte, 2016 aumentaram os bônus para a PBR Finals. A título de comparação um campeão de Las Vegas recebia 2500 pontos, depois voltou para 1000 e agora está em 1500. E nos rounds das etapas normais até o sétimo recebiam os bônus.
Acredito 95% dos expectadores ainda não entendem esta regra, eu demorei um ano e, vejo muita gente explicando errado.
Uma regra que permite que um competidor com uma parada a menos seja o campeão do evento.
Ironia do destino foi um brasileiro o primeiro a fazer isso. Adivinha quem? Kaique Pacheco, foi campeão em St Louis em 2015 parando em três touros, enquanto Stetson Lawrence venceu quatro touros e foi o segundo. (RELEMBRE)
Mesmo que foi um brasileiro que se saiu bem, a regra não é justa. É como se no futebol valessem os gols mais bonitos. Um time faz dois gols de canela, mas o outro time ganha a partida porque fez um gol de bicicleta. Não faz sentido.
A verdade é que surgiu um fenômeno diferente para os brasileiros, além de ter que enfrentar cultura, o idioma, os touros, aparecia agora o novo sistema de pontos da PBR.
Entre mortos e feridos, Kaique Pacheco, neste sistema, conseguiu ser vice-campeão mundial duas vezes (2015 e 2016) e quinto colocado mundial em 2017.
SUPERANDO O SISTEMA DE PONTOS
Quatro anos depois, em uma mesma tarde de domingo em Las Vegas, Kaique Pacheco conseguiu o tão esperado título mundial.
Infelizmente ele precisou entrar mancando e com muita dificuldade de andar, afinal os touros deixaram no joelho esquerdo do campeão do mundo muita dor.
O competidor de Itatiba (SP), é o sexto brasileiro a conseguir esta façanha e, este é o décimo título mundial para o Brasil, no total de vinte e cinco da PBR.
É preciso comemorar muito, vencer os touros, os outros competidores, o sistema de pontos não foi algo fácil.
Quando você observa Kaique chegando em Las Vegas, como chegou este ano, com as malas cheia de pontos, parece até que sua conquista foi fácil. Ela teve um começo e um fim complicado.
Como já levantado aqui, nas primeiras etapas desta temporada, Kaique não acertou nos touros, mas venceu os rounds especiais 15/15 Bucking Battle, que o manteve no ranking, se não fosse essas vitórias, ele poderia até ter saído do TOP35, mas logo ele foi voltando ao ritmo, assumindo a liderança do mundial após a vitória do Last Cowboy Standing em Las Vegas que é um evento Major, ele venceu essa competição três vezes. Daí em diante, ele decolou em uma sequência incrível.
Kaique venceu cinco eventos (Etapas normais), três 15/15 Bucking Battle, ganhou uma etapa de acesso, ganhou a fivela de campeão da Global Cup na Austrália e agora ganhou a fivela de Campeão do Mundial.
Ele fez uma temporada forte, construiu um cenário perfeito, chegou em Las Vegas com muitos pontos de diferença e talvez tenha criado um modelo para qualquer brasileiro que queira ganhar o mundial. Construa uma quantidade de pontos significante pra chegar em Las Vegas apenas administrar.
OS AMIGOS QUE SUPERARAM OS DOIS SISTEMAS
A passagem de título de Silvano Alves foi colocada no início do texto por dois motivos. Porque foi a última vitória do Brasil, no sistema antigo de pontos.
A vitória de Kaique veio quatro anos depois e a primeira do Brasil com o novo sistema de pontos.
Não precisa ser próximo para perceber a imensa amizade dos dois. Amizade de irmão, de pai, ou só de grandes amigos
As lágrimas de Silvano Alves quando Kaique venceu mostra o quanto ele, Silvano também esperava o título de Kaique.
SUPEROU A DOR
Tudo vinha perfeito para Kaique Pacheco, vitória em cima de vitória, bônus em cima de bônus, diferença aumentando chegou a quase dois mil pontos.
Último evento antes da final, rompe o ligamento do joelho. (Entenda mais sobre a lesão).
A principal dificuldade da PBR Finals, são em primeiro lugar os touros. No retrovisor do ranking um José Vitor Leme que dispensa comentários e Kaique com o joelho nessa situação.
O departamento médico o vetou, mas ele desobedeceu, foi para o sacrifício, sabia de todos os riscos e, com certeza sabia que não teria forças para enfrentar todos os touros da PBR Finals, mas graças a sua capacidade de ter alguns pontos sobrando na bagagem, precisa fazer valer todo esse sacrifício, alguns ele teria que vencer se quisesse ficar com a fivela de campeão.
Passar pelos dois primeiros rounds, dois dos três rounds mais difíceis da PBR Finals, foi o ponto crucial desta conquista de Kaique Pacheco.
Na sexta-feira, quando escolheu Humdinger para montar, um animal que havia dado 91 pontos dias antes, e acabou dando 52,50 pontos, notamos ali, nesta montaria que foi a última que o joelho de Kaique tinha forças.
No Re-Rider em ‘Humdinger’ como podemos ver na foto, o joelho de Kaique já não estava conseguindo responder aos comandos e daí em diante foi sacrifício ao pé da letra.
Ele não conseguia fazer força em cima do touro. Mesmo assim, foi valente e não se entregou.
LÁGRIMA DO ALÍVIO
As lagrimas ao receber a taça de campeão mundial tem todo um significado, o significado de luta de todo competidor brasileiro, sabemos que não é fácil vencer aqui, se destacar aqui e, depois chegar até lá e ser um campeão do mundo.
As lagrimas, saem tirando do peso das costas, de ter chegado duas vezes tão perto e não ter conseguido o título
As lagrimas saem porque ele tinha a melhor chance da vida de ser campeão do mundo e o joelho impossibilitava que ele desse o melhor de si em cima dos touros, como que ele fez a temporada toda.
As lagrimas de ver a possibilidade de José Vitor Leme a cada round tirar a diferença. De fazer uma grande final como fez e, tentar tirar seu título como quase tirou, ‘Vitinho’ vendeu caro para Kaique essa vitória.
Uma canção não muito conhecida do Padre Fábio de Melo tem uma frase que trago comigo sempre e serve para todos, incluindo um campeão mundial.
“Lágrima são fragmentos de história que não se pode entender”
Lágrima não é fraqueza ou sensibilidade, é sinceridade com os sentimentos que cada um carrega dentro de si.
QUEM É KAIQUE PACHECO NO MUNDIAL DE MONTARIAS EM TOUROS
Pegando toda a temporada 2018, Kaique Pacheco montou em 106 touros, vencendo 56. Um aproveitamento de 52,83%
Kaique ganhou na temporada regular $535.094,62 dólares. Com o bônus de um milhão $1.535.094,62
Ele é o décimo competidor em ganhos de todos os tempos na PBR com apenas quatro anos na divisão principal.
É o único campeão mundial e Campeão de Barretos.
E o Tuff Hedman? Essa discussão já gerou alguns comentários nas redes sociais.
O primeiro Barretos International de Barretos foi realizado em 1993, foi uma competição paralela sendo Tuff Hedman o campeão. Aconteceu o rodeio de Barretos normalmente, onde Mozart Junior foi o campeão Da Festa do Peão de Barretos daquele ano e Tuff da competição paralela, extra. Então Kaique Pacheco é o único campeão mundial a vencer o nosso rodeio aqui em Barretos.
CLASSIFICAÇÃO FINAL (MUNDIAL PBR)
1 – Kaique Pacheco – 5.444,16 / *$1.000.000,00
2 – José Vitor Leme (-422,50) / $30.000,00
2 – Cody Teel (1.927,50) / $20.000,00
4 – Cláudio Montanha (-1.943,33) / $10.000,00
5 – Marco Eguchi (-2.214,16 / $5.000,00
*Dividido em dez pagamentos 100 mil dólares por ano
**Premiação apenas pela classificação do Ranking mundial
Foto: Andy Watson
PBR FINALS (ETAPA DE LAS VEGAS)
Classificação + Bônus da etapa + Dinheiro ganho na final
*Incluindo bônus ranking mundial tabela acima
1 – Marco Eguchi – 2.050,00 Pts / $372.000,00 Dólares
2 – Jose Vitor Leme – 1.230,00 / $251.000,00
3 – Derek Kolbaba – 845,00 / $158.000,00
3 – Chase Outlaw – 845,00 / $78.000,00
5 – Matt Triplett – 787,50 / $106.500,00
6 – Cody Teel – 570,00 / $123,000.00
7 – Jess Lockwood – 492,50 / $68.000,00
8 – Cooper Davis – 460,00 / $68.500,00
9 – Eduardo Aparecido – 287,50 / $43.500,00
10 – Claudio Montanha Jr. – 187,50 / $45.000,00
DOMÍNIO BRASILEIRO
Não podemos olhar o campeonato mundial da PBR apenas com olhar de torcedor. Há bons caras montando lá na américa, mas esse ano foi literalmente nosso.
Ganhos a Global Cup, uma versão de Copa do Mundo de montarias realizada na Austrália.
Vencemos três eventos Master. Iron Cowboy, Last Cowboy Standing e PBR Finals.
O primeiro e segundo lugar do mundial foi nosso. No TOP10 do ranking, sete são brasileiros.
O maior número de brasileiros em uma PBR Finals DEZESSETE
Vitória também no Velocity Tour com Alisson de Souza
Dos $2.525.00 dólares distribuídos na PBR Finals, 71% ficaram com os brasileiros.
Das 28 etapas da temporada, DEZESSEIS foram do Brasil. Se acrescentarmos os rounds especiais 15/15 Bucking Battle são 37 etapas de 24 vitórias do Brasil, aliás só perdemos um round especial do 15/15.
Foi um ano para ser lembrado e quem sabe repetido na próxima temporada, talento para isso temos de sobra.
OUTROS CAMPÕES DE LAS VEGAS
SweetPro’s Bruiser (D&H Cattle Co./Buck Cattle Co.) venceu como melhor touro do ano faturando $100.000,00 dólares.
É o terceiro ano consecutivo que ele vence, igualando o feito de Litte Yelow Jacket que venceu em 2002, 2003 e 2004 que também venceu consecutivamente. Eles não foram os únicos que venceram três vezes, Bushwacker venceu em 2011, 2013 e 2014.
Hocus Pocus (Barthold/Kuhn/Almand/D&H Cattle Co.) e Legit (Leffew Bucking Bulls/Chad Berger/Clay Struve/Julie Rosen) empataram como melhor touro da final com média 46,25 pontos dividindo a quantia de $25.000,00 dólares
Hocus Pocus (Barthold/Kuhn/Almand/D&H Cattle Co.) também venceu como melhor touro da ABBI – American Bucking Bull Inc. faturando $200.000,00 dólares.
Keyshawn Whitehorse ganhou como Rookie Oh the Year (Revelação do Ano)
Chad Berger e Clay Struve foram eleitas as melhores Cias de Rodeio do ano.
O canadense Dakota Buttar, ganhou o prêmio Glen Keeley Award dado ao melhor canadense da PBR Finals.
Marco Eguche, melhor nota do evento, 94,00 pontos em Spotted Demon no round 02
Parabéns Eugênio, pelas informações e esclarecimentos para os fãs desde emocionante e arriscado esporte!