Prova de Laço em Dupla do Issao em Presidente Prudente é a maior do Brasil
Durante muito tempo escrevo sobre rodeios e provas, mas participar ou, visitar, estar em uma prova de laço, é algo raro.
O primeiro fator limitador é agenda, o segundo é que, quanto tenho folga, gosto de ficar em casa.
No último final de semana eu estava nessa situação, de folga, e querendo ficar em casa. E na minha casa, ou cidade, estava acontecendo a maior Prova Particular de Laço do Brasil, a já conhecida e renomada prova do Issao que em 2016 realizou a sua 16ª edição.
A prova começou na quinta-feira dia 28 e se estendeu até o sábado 30, isso na teoria, porque na prática foi tudo bem diferente. Verdade seja honestamente bem-dita, o frio me segurou em casa quinta e sexta, mas no sábado enfrentei ele e fui passar a tarde lá.
O local não poderia ser outro, arena coberta do Rancho Quarto de Milha recebeu durante os dias do evento aproximadamente, 400 animais, aproximadamente também mil laçadores.
Algo em torno de quatro mil inscrições, números que fizeram a arena movimentar e dia e noite, isso mesmo, desde que começou na quinta-feira e prova não parou, rodou 24 horas.
Para que tudo desse certo, eram sessenta pessoas trabalhando no Staff, só locutores eram quatro, que se revezam.
Dentro da arena duas pistas montadas, quem acerta a laçada, já corre o segundo boi na pista seguinte onde uma nova equipe, incluindo um locutor espera para fazer o trabalho.
Alessandro Mendes era um dos quatro locutores, e me orientou como funcionava tudo. Eles ficavam em um stand estilo cabine de transmissão de TV no futebol, lá dentro, uma repartição com um locutor e um responsável para parar o cronômetro. Com auxílio de um programa, eles tinham a ordem de entrada e eles mesmo atualizam os tempos.
A cada 100 bois, sai um locutor entra outro, sempre em três, o quarto dormia em um hotel da cidade.
A jornada de trabalho pode variar, enquanto estive lá das 15:00h as 20:00 eles não saíram do trabalho, acompanhei 500 laçadas.
Logo perto dessa cabine um receptivo com oito pessoas, só para fazer inscrições. No sábado último dia da prova (na teoria) é o dia com mais participantes.
Eles já haviam passado a noite anterior em claro e a previsão era que a prova terminasse no domingo só na parte da tarde, era a previsão, bom que horas terminou eu conto mais abaixo.
PAI E FILHO LAÇANDO JUNTO
Entre idas e vindas, em certo momento estava ali, na cabine dos locutores assistindo, conversando e sem saber ao certo o que fazer até que o público reagiu com vibração, gritos e aplausos a uma laçada, quando olhei na arena um garoto de 09 anos de idade, laçou os dois pés do novilho.
Naquele momento já sabia qual seria minha primeira pauta fui de perto ver o que se passava. Como não consegui ver que era o menino, Alessandro Mendes comunicou o juiz no rádio que eu iria descer lá, fui e logo vi um garoto na beira da arena e fui logo fazendo perguntas, mas não era ele, esse seria um motivo de outra pauta e eu nem sabia ainda.
Desci no meio de cavalos e cavalos e cavaleiros, e fui andando em meio aos animais. Tudo normal, afinal morei 25 anos de minha vida em um haras, cheguei até o juiz e perguntei: O garoto? Ele apontou o outro lado.
Consegui literalmente ‘pular a cerca ‘e chegar até João Pedro Stefani, nove anos de idade. Quieto e observando tudo, o garoto viajou com seu pai de Mineiros, estado de Goiás até Presidente Prudente e foi com o pai, também laçador, que fiz a pergunta que explica um pouco o tamanho da prova.
CURTA EUGÊNIO JOSÉ NO FACEBOOK
Porque vir de Goiás para uma prova de laço em Presidente Prudente (SP)?
– A prova do Issao, é uma prova que todos os laçadores querem participar, estar aqui é muito importante para nós do laço, é a prova que mais remunera e é tradição já. Quem monta em touros, quer estar em Barretos, que participa do Laço em Dupla quer estar na Prova do Issao – Explicou Vinícius Stefani, Engenheiro Agrônomo que pratica laço em dupla há três anos, ele laça cabeça (Cabeceiro)
E quem laça com ele é o filho, e segundo o pai, ele (João Pedro) escolheu laçar os pés, que em minha opinião é bem mais difícil, porque o garoto queria justamente laçar com o pai.
Claro que, ao invés de enrolar a corda como todos fazem, ele laça com a corda já amarrada na sela.
E o garoto é bom no que faz, pelo menos no momento em que estive por lá, assisti duas laçadas, e as duas foram nos dois pés.
Bom de corda, João Pedro é meio quieto, não fala muito, mas quando perguntei sobre medo, ele disse não temer nada, e que na escola os amigos admiram pelo o que faz.
O pai explica que, tanto ele como os outros parceiros que laçam com o garoto, sempre trabalham para que as coisas sejam, não facilitadas, mas sem a necessidade de marcar o melhor tempo, e sim zelando para que nenhum acidente aconteça com o garoto e ele aos poucos vá se acostumando.
Pai e filho laçando juntos
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ANDANDO PELA PROVA
Como é a prova mais esperada do ano, muita coisa dá para se fazer por lá. Andei boa parte do tempo, olhando, observando.
Hora um cavalo suado, se dirigia ao meio das dezenas de trailers, camionetas, caminhões e até carretas, para tirar a sela e no mesmo campo de visão você enxergava alguém colocando a sela e indo para a arena.
Pessoas com seus cachorros, outro deitado na rede, já mais adiante uma galera bebendo, outros fazendo churrasco, e assim é a prova, cheia de movimentação e famílias inteiras juntas participando
Além dessa movimentação de participantes, tem a movimentação para quem visitava como eu.O público era grande e era gente chegando a saindo o tempo todo.
Um restaurante, com ‘Self Service’ foi montado no local. Se quisesse uma refeição mais rápida, havia um casal vencendo espetinhos.
Com tantos cavalos e cavaleiros, as oportunidade de negócios são reais, vi pelo menos duas selarias com dezenas de selas, tralhas e assessórios, um representante de trailers, em outro local, venda de suplementos para animais.
Do Rio Grande do Sul, um especialista em couros, e em parceria com eles, dois argentinos especialistas em fivelas e metais, eram os responsáveis pela fabricação da fivela da prova.
COMEÇANDO CEDO
Ainda ali na no mesmo lugar coberto por tendas, a garotada, se divertia laçando um boi amarelo de plástico, em uma espécie de competição.
Um casal organizava tudo, marcando tempo e distribuindo brindes, o futuro da geração estava garantido.
Enquanto eu dava essa volta, meu nome foi anunciado, era Alessandro Mendes, me chamando lá na cabine de narração.
DOIS IRMÃOS CARIOCAS
Alessandro Mendes me indicou uma pauta, sobre dois garotos do Rio de Janeiro, capital, achei interessante, logo ele chamou o pai também no microfone.
O pai é André Rutowisch, trabalha no mercado imobiliário na capital carioca, sempre teve propriedade rural, fazendas, e iniciou no laço, foi campeão nacional pela ABQM em 2011. Seus filhos vieram no mesmo sentido.
– Eu trago meus filhos para o laço porque acredito que o esporte educa e prepara as pessoas para a sua vida pessoal e profissional. No esporte em questão, o laço em dupla, eles aprendem a conviver com pessoas, superar metas, vencer adversidades, isso é muito importante para a formação dos meus filhos – Disse André
André acompanha tudo de perto, os garotos laçam com parceiros diferentes e juntos. O pai com um rádio de comunicação, orienta sua equipe e nada é feito sem seu consentimento. André fica boa parte do tempo na cabine dos locutores, é amigo particular do Issao.
– Essa prova aqui eu participo dela há muitos anos, é a maior prova particular no Brasil, é realmente um local a ser estar, se tratando do Laço em Dupla – Disse André.
Claro que você neste momento está se perguntando, quem são esses garotos?
Lembra o garoto que entrevistei errado lá no começo da matéria? Então ele se chama Eduardo Rutowisch de 12 anos, irmão de Felipe Rutowisch de 14 anos.
Eles laçaram várias vezes, com parceiros diferentes, sempre observado pelo pai, que volta e meia passava instruções pelo rádio, hora sorria, hora lamentava, mas sempre acompanhando tudo.
– Não há discriminação, mas sou o diferente da sala de aula, meus amigos me olham com admiração por ser um laçador, algo incomum no Rio de Janeiro – Explica Felipe que já foi reservado campeão pela ABQM e quarto lugar com seu irmão no mesmo congresso nacional.
Já na hora de ir embora consegui ver, mas não consegui filmar os dois irmãos Rutowisch laçando, não vacilaram e fizeram o trabalho acertando cabeça e os dois pés do novilho.
HORA DE IR EMBORA
A noite veio logo, e a movimentação não parava, uma fila de cavalos amarrados no corredor comendo feno, mostrava como a noite ia ser, intensa e assim foi. Troquei rápidas palavras com o idealizador da prova Issao. Por rádio em uma só frequência, ele comandava todos, da cabine de locução até a equipe de limpeza, todo mundo recebia suas orientações. Ao todo eram dezesseis rádios distribuídos com a turma do staff.
– Passo o ano todo preparando essa prova, acaba aqui, já começo elaborar e preparar a versão de 2017 – Explicou Issao.
O meu tempo lá na prova, foi importante, por várias razões. Desde rever amigos, conhecer pessoas, entender e conhecer como era a prova e principalmente medir como é este campo do laço em dupla.
Espero ser a primeira de muitas provas, gosto deste meio e pretendo cada vez mais articular e divulgar ainda mais tudo que envolve provas e rodeios. Foi uma tarde/noite especial
E para concluir a prova que começou as 15:00h do sábado terminou as 21:15h do domingo.
Clique no link e confira os resultados e premiação distribuída
Resultados 16ª Prova do Issao