Entrevista com Junior Nogueira o laçador brasileiro que conquistou os EUA
Nascido em Presidente Prudente (SP), Junior Nogueira, 25 anos é um laçador da modalidade Laço em Dupla (Team Roping). Nesta modalidade um laça a cabeça ou chifres do novilho (cabeceiro) e outro, no caso Junior Nogueira, laça os pés, (Pezeiro).
Junior Nogueira é o nome que ele ganhou nos EUA, aqui no Brasil Lucinei Nunes Nogueira Junior o ‘Testinha’, filho do lendário Lucinei Nunes Nogueira, o lendário ‘Testa’ um dos laçadores mais conhecidos e premiados em nacionalmente, que teve uma morte prematura em decorrência de um enfarto.
Junior Nogueira, seguiu os passos do pai, laçando pela região e logo ganhou o Brasil e agora o mundo.
Respeitado, consagrado no Brasil, Junior resolveu em 2013 fazer uma viagem aos EUA, para assistir a NFR – National Finals Rodeo, em Las Vegas. A NFR é a final mundial da PRCA – Professional Rodeo Cowboys Association, entidade mais antiga do rodeio mundial, que realizar o rodeio completo com todas as modalidades.
Um ano mais tarde, Junior foi o primeiro brasileiro, nesta modalidade, a conseguir uma vaga para NFR.
No final de 2015, dois anos depois, Junior Nogueira estava lá na mesma NFR, desta vez, pronto para conquistar o título mundial, mas antes porém, ele viveu um drama.
Junior laça com o experiente Jake Barnes, sete vezes campeão mundial e 27 vezes classificado para a NFR.
Em um dos últimos treinos, menos de uma semana para a NFR, o cavalo de Jake caiu sobre ele. Jake chegou a ficar desacordo, acordando com uma oração de Junior Nogueira. Clique e saiba sobre a história
No resumo de acidente, um tornozelo quebrado, três coágulos no cérebro e Junior Nogueira ficou sem parceiro para a final. Pelas regras da competição. O 16º lugar no ranking Jo Jo Lemond foi chamado as pressas para laçar com Junior.
Eles fizeram um grande final. No último boi, era só laçar e ser campeão do mundo, mas Jo Jo Lemond não conseguiu enrolar o laço e não conseguiram também o título. Olhando por outro lado, Junior ficou em terceiro na NFR e quarto no mundial, a melhor posição de um laçador em toda a história.
Ele já é ídolo por lá, com sua precisão de laçada, com sua humildade e com seu jeito diferente de deitar para trás, logo Junior foi chamado para participar dos mais importantes rodeios.
Falando um pouco da NFR, ela acontece em dez dias e são 10 milhões de dólares em prêmios. Junior jogou 18 cordas em dois anos, não errou nenhuma. Só seus parceiros Jake Barnes em 2014 e Jo Jo Lemond em 2015 erraram, ele não. A NFR acontece sempre nas duas primeiras semanas de dezembro.
Em férias no Brasil, Junior se deslocou de Presidente Bernardes, onde vive até Presidente Prudente (SP), onde se encontrou comigo e com o Sinomar Calmona, colunista social, porém sempre ligado e sempre divulgando rodeios. Junto fizemos essa entrevista abaixo.
Você e todos nós sabemos do seu potencial. Você imaginava que em dois anos você teria tanto reconhecimento nos EUA?
Eu sabia que não ia ser fácil. Em dois anos aconteceu muita coisa, tenho certeza que tem não só o dedo, mas as duas mãos de Deus. Olha como tudo começou. Fui lá passear, conheci o Jake Barnes, ele já tinha parado de laçar. Aí fomos laçar em um rodeio, já classifiquei, ganhei um terceiro, comprei meu cartão da PRCA. Nosso projeto era ganhar o prêmio de Rookie Of The Year (revelação do ano). Chegou um certo momento que ele Jake me disse: – Junior esse prêmio você já ganhou, vamos tentar classificar para a NFR e conseguimos. É muito difícil, você classificar para a NFR no primeiro ano (2014), ainda mais sendo de outro país e sem correr a temporada toda, mas graças Deus deu certo e ano passado (2015) consegui de novo.
Todos nós sabemos da história do Jake Barnes, se acidentou, não pode ir para a final, praticamente no último treino antes da NFR. Quando você pegou a estrada rumo a Las Vegas, foram centenas de quilômetros para encontrar um parceiro que você nunca laçou junto. O que passou pela sua cabeça?
Cara! Eu só pedi proteção a Deus. Quando o Jake se machucou liguei para o Jo Jo Lemond. O cara estava trabalhando em uma fazenda lá no fundo do Texas, mexendo com bezerro. Quando liguei para ele, a sua reação era que fosse um trote, ele achou que era uma brincadeira. Laçamos cinco bois com ele em Las Vegas, e depois fomos entrosando e melhorando de round a round
Ele (Jo Jo) é um pouco mais rápido que o Jake?
Sim, ele é mais agressivo, ele joga bem antes as cordas. No segundo dia ele quebrou a barreira, ai ele me disse que não ia acontecer mais e não aconteceu.
As pessoas não gostaram que ele errou a última corda e começaram a xingar ele (Jo Jo) na internet. Posso arriscar dizer que com ele você foi além do que poderia ir com o Jake Barnes? Baseando-se na atuação sua e do Jake em 2014.
Ás vezes eu e Jake Barnes teríamos ganho na média. Mas com o Jo Jo foi espetacular, entramos entre os seis primeiros (que recebem $$) em oito rounds, foi uma NFR espetacular. Em 2014 entrarmos três vezes entre os seis primeiros. E a diferença é que esse ano, os caras estavam laçando bem mais que em 2014. Então fomos muito bem mesmo, acima do esperado.
Você chegou a ser quarto no meio temporada, e depois seus nomes sumiram dos resultados. O que aconteceu?
Começamos a não ganhar, a maioria das vezes a gente acertava os bois, mas não classificava, não ganhava, acabamos classificando em 12º para a NFR. No final da temporada, os caras que estão para trás vem com tudo e nessa época tem muito rodeio de um boi só, onde os caras vão pro tudo ou nada, e este não é o estilo do Jake Barnes.
Aquela foto no *The American, com você deitado após uma excelente laçada, que saiu em capas de revistas, ajudou a projetar a sua mídia nos EUA?
Com certeza ajudou muito, e como era um evento transmitido ao vivo, eu fiquei em segundo, luga,r ajudou muito a ser reconhecido e ganhar novos fãs por todo os EUA.
Você trabalhou bem na NFR junto com Jo Jo Lemond. Pela TV, parece ser grande a arena, mas não é né?
Não tem espaço para erros, pela televisão parece que é grande, mas ao vivo, você conhece o Thomas & Mack Center, é pequeno para o laço em dupla. Se adiantar quebra barreira, se atrasar o boi chega rápido na lateral da arena. Tem que ser preciso, por isso muitos caras laçam bem o ano todo, chegam lá não conseguem ir tão bem.
Na noite que vocês erraram a laçada, você conseguiu dormir?
A gente fica triste chateado, demora até acreditar. Nunca imaginei. Até imaginava que ele podia errar o boi, mas isso não. E outra, as vezes eu poderia erra a laçada, quem me garante.
Como foi a reação dele (Jo Jo)?
Ele ficou triste me pediu desculpa, perdão, mas faz parte.
No caso de Jo Jo temos que olhar as circunstâncias que o levaram até aquele momento. Ele não era para estar ali, ele não tinha obrigação de nada, ganhou os dólares dele, você ganhou os seus dólares.
Com que você vai laçar em 2016?
Vou laçar com o Kaleb Driggers, ele é o atual campeão do The American. Junto com ele fiz 3,3 segundos em uma prova aberta no Texas. Ele me chamou e queria ter a oportunidade de corre com outro cara. Acredito que faremos uma boa dupla.
VÍDEO: Jake Barnes & Junior Nogueira no The American 2015
O Jake Barnes vai parar?
Não ele vai continuar
Lá nos EUA, além de ser bom de laço, tem que ser bom de roteiro, de estrada. Sem a ajuda do Jake Barnes você conseguiria viajar lá?
Seria muito difícil sem ele, é muito difícil mesmo, as vezes caem vários bons rodeios no mesmo dia, então você tem que saber fazer as inscrições certas, é bem complicada esta questão de planejamento.
Como é sua rotina?
Levando cedo, treino monto meus cavalos, porém, quando estamos viajando não temos tempo para treinar.
Onde você está morando?
Agora eu estou sem casa (Risos), mas vou me mudar para o Texas, não tenho lugar certo ainda, mas, passo a maioria do tempo dentro do trailer mesmo.
Como está o Jake Barnes?
Ainda não está laçando, mas está bem, esperando a liberação dos médicos.
Os animais estranham as mudança de temperatura, como é laçar no frio?
A gente cuida muito bem deles, o cuidado é tudo, sem pelo menos dois cavalos para intercalar é complicado você conseguir fazer a temporada toda.
Qual foi o momento mais gratificante em 2015?
Além de fazer NFR de novo, foi ganhar uma prova tradicional no Texas, Spacer Gripp. Uma prova bem antiga e conseguimos ganhar, eu e o Jake.
Como é a emoção de correr na NFR?
É muito gratificante, saber que dois anos atrás eu estava ali sentado nas arquibancadas e dois anos depois eu com a chance de ser campeão mundial. Um amigo meu disse que essa NFR, vai ser lembrada igual aquele gol do Pelé driblou o goleiro com o corpo e não fez gol. Foi história essa final mundial, faltou o título, mas tudo que aconteceu foi ótimo. Fiquei feliz também por dar uma alegria para o povo brasileiro que vive um momento tão feliz.
Depois desta final os patrocínios começaram a olhar mais para você?
Sim, estão atrás, inclusive durante a NFR me procuraram, mas não quis falar com ninguém, disse que viria ao Brasil e depois conversava com eles.
Você tem empresário ou agente?
Até tenho um empresário que cuida de algumas coisas no Brasil, mas eu mesmo cuido das minhas coisas. No começo, muita gente queria tomar vantagem, mas eu quis eu mesmo resolver as minhas coisas.
Olhando no ranking à frente do seu nome está 194 mil dólares. Mas, a história no dia a dia não é tão simples né?
Pois é Eugênio, você já foi lá sabe como é, andar o ano todo com trailer, cavalos, etc não é fácil, mas se a gente não fizer a NFR não ganhamos dinheiro, sem contar impostos e tudo mais. Lá no ranking é muito bom, mas na calculadora e vida lá é complicada, embora todo o esforço seja recompensado com bons prémios.
Lá existem treinadores?
Não, as meninas lá, a são a maioria elas mesmos as treinadoras, na NFR mesmo, conheci a Cassidy Kruse, 19 anos, ela anda com um caminhão com três cavalos sozinha. Em resumo, tem que economizar, de todo jeito, porque os ganhos são incertos, mas os gastos são certos?
Quando será seu primeiro rodeio nos EUA?
Será no Texas no começa de fevereiro
Por Eugênio José e Sinomar Calmona