Bastidores do último dia da Festa do Peão de Barretos
Já passava a meia noite quando despedi dos dois últimos profissionais em atuação na sala de imprensa, os fotógrafos Leandro Nascimento e André Monteiro.
Passei pela sala vazia, no balcão da cozinha, visualizei taças personalizadas e vazias de Chandon junto com algumas garrafas no mesmo estado.
Horas antes aconteceu ali uma celebração, simples, modesta, porém merecida. Todos que passaram pela aquela sala de imprensa em especial, a galera da Assessoria, ralaram pra caramba durante exaustos onze dias de Festa do Peão de Barretos.
Verdade seja dita, os champanhes, foram usadas em um brinde a após a coletiva de imprensa com diretores, de os Independentes e o presidente Jerônimo Muzetti.
Junto estavam Américo Mattos, participante do Desafio do Bem e Kaique Pacheco campeão de Barretos na modalidade touro.
Uma pausa. Preciso voltar no começo da tarde domingo, que começou quente (Ao pé da Letra). Alguns minutos depois das 14:00h desci para a arena, repeti este gesto dezenas de vezes nos últimos onze dias, mas desta vez, como um APAIXONADO POR RODEIO, sabia que quando fizesse o trajeto inverso traria os campeões. São onze dias de eliminatórias e expectativa para isso: SABER QUEM SERÁ O CAMPEÃO DE BARRETOS, ou os campeões.
Esperei que a abertura terminasse na sombra, logo segui no sol forte para o lugar de onde registro meus vídeos e fiquei ali cinco minutos esperando o rodeio Jr, começar. Eu nunca havia feito essa modalidade e achei que seria interessante fazer.
O locutor entrou e anunciou a primeira montaria. Ergui o Ipad para filmar e aparece na tela um termômetro dizendo que meu aparelho estava quente demais para ser usado, que eu precisava, esfria-lo.
A partir de então, a coisa ficou quente, sendo mais exato, dramática. Corri para o fundo dos bretes, peguei dois saquinhos de agua, coloquei o aparelho em cima e fique ali abanando. O gesto chamava a atenção de todos. Enfim, por mais um ano não consegui fazer o rodeio Junior.
Voltei para registrar o Team Penning, mas percebi que ia esquentar de novo, voltei e refiz o gesto.
Nessa hora, encontrei Guilherme Marchi e logo se juntou Leandro Baldissera que, no meio da nossa conversa, disse que recebeu a notícia naquele momento que seria avô, seus olhos encheram de lágrimas. Conversamos sobre a vida, os três, mas o rodeio não parava, e com o sol mais calmo fui a luta.
Sem novidades na Sela Americana e no Bareback, entrevistei Leandro Baldissera, campeão da Sela, que estava ao lado de Leandro Medeiros em cima do palco.
A cada final de modalidade, era feito a entrega de prêmio de uma modalidade anterior e a correria era grande. Até que, antes dos Três Tambores, foi feita uma homenagem a Nossa Senhora na arena, subi para tentar deixar alguma coisa, na sala de imprensa. Decisão errada!
Pelo computador eu acompanhava tudo, até que ouvi: Para narrar os Três Tambores convido Alessandro Mendes.
Correria, desci como um louco para a arena, quando cheguei no local onde ficam os comentaristas, estava lotado, precisava de um lugar para filmar e agora?
Sorte que um rapaz, que não lembro o nome (sou péssimo com nomes) viu meu desespero e cedeu o lugar, dez segundos depois a primeira competidora já passava por ali.
Na minha esquerda uma mulher, que também não reconheci, marcava o tempo de todas as competidoras. Após cinco passadas o reparo de pista, essa mulher fez o nome do pai. Olhei na lista escrita a caneta dela, era Caroline Rugolo, logo imaginei, que seria a mãe dela, e era.
Assim que Carol passou, ela expos toda sua emoção com gritos e pulos, você pode conferir com 1:40 no vídeo da final dos três tambores. Como é de tábua o chão desse lugar, digamos que o vídeo ficou um pouco tremido RS. Como eu sabia que ela tinha ainda outra filha na final, Louise, eu precisava mudar de lugar. Não a culpo, se fosse uma filha minha talvez vibraria mais, porém, eu precisava trocar de lugar.
Gentilmente e com cara de pau, pedi ao seu Klinger Ribeiro, pai do Tião Procópio, para trocar de lugar comigo. Deu certo, porém, na hora que Louise correu, seu cavalo escorregou, ela estava em segundo lugar com chances mais do que reais de ser campeã. No mesmo instante, em direção para o terceiro tambor, Louise levou a mão ao rosto e começou a chorar, foi um dos momentos mais tristes que presenciei na arena de Barretos.
Imaginei que, nos três tambores, não é fácil, classificar para a noite, marcar o menor tempo, como ela marcou na quinta-feira, chegar na final em segundo lugar, e um escorregão levou tudo embora, olhei para a esquerda, sua mãe não estava mais lá, ela sabia que a filha precisava dela naquele momento.
A prova continuou e Fatiana Ferreira, ganhou e parti para o lado novo, abaixo do camarote Arena Premium. Vi Fatiana sentada e tinha alguém do lado dela eu não sei quem era, cheguei e perguntei: “Sabe onde está a campeã dos Três Tambores, uma tal de Fatiana Ferreira? Me disseram que ela é meia nova na prova dos Três Tambores”
Fatiana levantou dando risada, comecei a entrevista, vi que no meio, ela começou a mudar a feição, estavam chamando ela para a volta olímpica, tive que dar pausa, na verdade eu que estava adiantado demais, depois que saiu da arena continuamos, ela estava muito feliz e com motivos é claro.
Pela final do Cutiano, Paulo Henrique Baesso, tinha a liderança e um bom animal, após completar os oito segundos, desceu sorrindo, mas precisava da nota. Caminhava para o fundo dos bretes, olhando para o painel de LED. Veio a nota, seus amigos pularam dentro da arena e comemoraram, eu de imediato fui ao fundo dos bretes. Ele recebia os abraços e contou a sua história, que me deixou surpreso, ele quase perdeu um dedo, ficou cinco meses sem ir aos rodeios, e adivinha qual foi o primeiro rodeio? Sim, Barretos é a resposta.
Pronto, nesta hora tem um momento que eu gosto demais. Um show, com duplas raízes, ele dura aproximadamente 40 minutos.
Porque eu gosto deste show? Nesse tempo, consigo subir ao Rancho da Imprensa e colocar todas as entrevistas, vídeos e textos no ar. Fico livre e liberado para a montaria em touros.
Quando desci, encontrei Rodrigo Rosa, o Xuxa, que me perguntou quem seria o campeão.
Eu respondi: Está pro Kaique, mas como Barretos é cheio de surpresas, vai saber. Quando cheguei nos bretes vi Guilherme e João Ricardo se aquecendo, eles seriam os primeiros a montar.
Como sabem, Barretos tem bretes dos dois lados, e fizemos essa caminhada entre brete dos fundos e brete da frente quatro vezes.
Chegou a hora de Kaique montar. Nesses minutos que antecedem a decisão, eu fico mais tenso que os próprios competidores.
Kaique sai, o touro cai. Nessa hora, confesso que deu vontade de soltar um palavrão, mas me contive, ou seja, mais adrenalina.
Era nítido que ele tinha outro touro, porém uma reunião nos bretes, pois não era só o título de Kaique que estava em jogo. O touro Garimpo, que caiu era de Juliano Domingos, e ele estava concorrendo a título de melhor boiada.
Juliano queria que voltasse o touro, pois, se isso não acontecesse ele ficaria sem a nota do seu melhor touro para a médias das boiadas.
A reunião foi primeiro entre Silvano Alves, Guilherme Machi e Juliano, depois passou para arena com os quatro juízes, e Juliano, Kaique parou e ficou olhando tudo. Não decidiram tão rápido, mas decidiram, foi dado outro touro a Kaique.
Ele veio e venceu “Fecha Buteco”, enquanto o touro rodava, Guilherme Marchi segurava o chapéu na mão, ameaçou tacar com seis segundos, nesse instante, Kaique deu uma pendida no touro, e caiu, mas caiu com oito segundos. Guilherme jogou o chapéu e pulou na arena, seguido por Silvano Alves, e na sequencia veio Everaldo, pai de Kaique.
Bom, nesse momento, olhei para trás, vi uma mulher em cima da grade gritando e o segurança já partindo para retira-la de lá. Era a mãe de Kaique, eu só havia a visto uma vez. Um dia antes, mas nem sabia e confesso que ainda não sei seu nome.
Eu que sou péssimo fisionomista, a reconheci, avisei o segurança que era a mãe do campeão. Ele usou uma frase engraçada que não posso deixar de falar: “Ela é mãe do cara que ganhou? Vamos descer ela” Ao invés de descer no colo do segurança que se posicionou pra isso, ela quis passar direto para a arena, esticou a perna e adivinhem? Caiu no chão.
Confesso que fiquei preocupado, mas ela logo se recompôs e seguiu para arena, afinal, ela podia tudo naquele momento. Era a mãe do campeão de Barretos querendo dar um abraço no filho.
Bom, o campeão estava definido. Segui para o fundo dos bretes, mas sabia que muita gente queria o entrevistar, fique na minha. Esperando Kaique sair da arena.
Fiquei conversando com Everaldo, pai de Kaique, fiz uma matéria com os dois em Rio Verde em 2014, e conhecia a história deles.
Tiraram Kaique da arena porque ele precisava subir para a sala de Imprensa, mas ele foi abordado por outro veículo de comunicação.
Orientei Everaldo, que pegasse o chapéu de Kaique, pois ele precisava subir. E ajudei as meninas da imprensa a tirar ele dali.
Ele logo me disse: “Entrega essa luva para meu pai” Eu fiz e sai atrás dele. Kaique parou de novo e disse: “Espera ai gente! ” Tirou a colete e a calça de couro e me entregou. Pedi que alguém entregasse ao pai dele e subi junto.
Uma equipe de filmagem da Net Flix que estavam gravando um documentário com os competidores que vieram dos EUA, acompanhava Kaique que entrou na sala de imprensa.
Foi minha vez de entrevista-lo, depois de feito, claro que, bati uma foto, não podia perder o momento de tietagem. Risos.
Kaique precisou descer novamente, era hora de subir ao pódio. Joelma da Phábrica de Ideias, me avisou que teria uma coletiva de imprensa.
Nesse momento, acontecia o Desafio do Bem, mas deixei Fernanda, minha esposa acompanhando, logo, chegou Américo Mattos, que venceu o touro Dalit no desafio.
Ele estava conversando com Jerônimo Muzetti, presidente de Os Independentes, me juntei a conversa, falei um pouco mais de Américo, um exemplo de vida e superação.
A coletiva começou. ‘Jerominho’ falou e se emocionou, o mesmo aconteceu com “Bodinho” responsável pelos shows, Hussein diretor financeiro e Dr. Kiko diretor de rodeio também fizeram seus pronunciamentos.
A palavra foi passada aos competidores Américo Mattos e Kaique Pacheco, que se juntou no último minuto, mas eles preferiram não falar nada.
Taças de Chandon foram distribuídas e todos brindaram e beberam. Américo me disse que queria tirar a tralha, ele ainda estava de calça de couro e coletes. Falei que ele podia sair, mas acho que ficou com vergonha.
Depois de um tempo sai da coletiva, que já havia se encerrado, enquanto todos se abraçavam e comemoravam, afinal a festa foi um sucesso. Mesmo que alguns não concordem, foi. Lá, fora estava a família do Kaique, logo olhei para trás. Vinha ele, Kaique e Américo, acho que se encorajaram com minha saída.
No Rancho da Imprensa, a galera já arrancava os papeis com notícias da parede, o clima era de: ACABOU. Sentei para terminar a parte de touros. Nesta momento Patrícia e André Silva, junto com Jorge ainda estavam na sala, eles comiam um pedaço de pizza. Mas logo se foram, como moram em São Jose do Rio Preto iriam terminar o trabalho em casa. Que inveja, eu só poderia fazer isso no dia seguinte.
Voz para gravar o minuto do rodeio não tinha, até gravei o áudio, mas não rolou. Hora de guardar as coisas no carro. No bar ao lado da imprensa, encontrei Guilherme Marchi com seus pais. Paramos para comer um lanche, quis tomar uma cerveja.
Ajudei o americano Cody Nance, a pedir uma janta. Pedi pra mulher caprichar e ela fez um prato gigante. Ele ficou impressionado. O grupo internacional foi embora encontramos a família de Kaique mais uma vez. A mãe queria ir embora, o Pai queria pousar, eles estavam em um trailer. O irmão mais novo também queria ficar.
Uma reunião em família e tudo decidido, resolveram pousar e ficar. Sairiam bem cedinho, pois Kaique precisava pegar voo a tarde.
Relembramos o tombo da mãe de Kaique. Rimos, afinal a emoção já tinha passado. O filho mais novo dedou que ela derrubou duas mulheres no caminho das arquibancadas até a arena. Ela se defendeu dizendo que pediu licença, mas o garoto afirmou que não, no final ela confessou que deu um empurrãozinho. Rimos muito, mas era preciso rumar para os nossos destinos.
A família de Kaique, seguiu, eles iam reinstalar o trailer, e eu tentar juntar o que sobrou o corpo e ir ao hotel. Literalmente a correria foi grande e o corpo começava a apontar isso, mas nessas horas vejo que a paixão pelo rodeio fala mais alto, mais forte, e as dores não são nada.
Queria ter tempo para escrever os bastidores dos onze dias, talvez um dia eu vá lá só para fazer isso, quem sabe, daria um bom livro.
Voltei a sala de imprensa, pare me despedir dos dois últimos que restavam por lá, Leandro Nascimento e André Monteiro, foi assim que a história começou.
O corpo dolorido, refletia que dei o meu melhor, lutei pela notícia dia e noite, pensava em você que não estava lá, ou até mesmo você que estava. Muito obrigado a todos que visitaram. Por mais um ano, o site foi recorde de visitas em agosto. Obrigado a todos!
Por Eugênio José – MTB: 67.231/SP
Foto: André Monteiro